08/10/2012

Sandes de ovo


No momento de impasse em que decidíamos se saíamos ou não (pelo escuro que estavam lá fora), tudo seria diferente se nos tivéssemos ficado pelo não e decidido cozinhar o arroz com os vegetais enlatados.
Mas…apetecia-nos um hambúrguer daquele sítio. Não pelo hambúrguer que nunca provámos, nem pelo sítio que não prima pela beleza, conforto, diversidade ou o que quer que pensemos que um espaço comercial possa fazer por primar.
Calçamos as sapatilhas, pusemos repelente, pegamos nas duas lanternas e uma com a outra lá fomos em fila pelo carreiro. Uma à frente da outra para que a segunda tivesse a certeza do lugar onde podia por os pés. Ouviam-se as cigarras, os jambés ao longe, o barulho de um gerador perto da barraca onde se fazem trabalhos de carpintaria que fica à frente da árvore debaixo da qual se fazem os tijolos de areia e mais qualquer coisa que ainda não sei o que é.
Passou uma mota que voltou para trás para nos acompanhar no caminho porque éramos novas ali e o caminho era escuro e ele tinha uma luz na mota. Que bom que foi! E a conversa também. Tinha o senhor, Salu Baldé, que se definia como comerciante de Bafatá, estado 6 anos em Portugal e até conhecia leiria e um senhor chamado Jorge que estava com um negócio bem montado aqui na região.
Deixa-nos o senhor na estrada onde algumas barracas já têm luz, com o número de telefone para o caso de precisarmos de alguma mercadoria do seu armazém. Metros à frente, junto ao pão romântico (isto é, o último pão do dia que para que se veja a qualidade que ainda tem e se cumpra o destino da venda, está iluminado com velas semelhantes às que em Fátima se põe a arder com intensões) pára-nos o Quintino dos moveis para que lhe lembremos os nossos nomes e dizer que na segunda-feira nos vem trazer a mesa que encomendámos na quinta.
Mais uns metros e chegámos ao sítio (restaurante, chamamos nós!) dos hambúrgueres. Cumprimentamo-nos alegremente pela felicidade de nos vermos… Nós, por termos conseguido chegar, eles pela surpresa de nos verem ou de verem alguém (será?). Perguntámos:
- O que há para comer?
- Naaadaaaa… naaadaaa… vêm estas palavras detrás do balcão com a maior doçura e naturalidade.
- Não há nada para comer?
- Não. (com um sorriso sincero na cara)
- Então... mas não tem hambúrgueres?? (incrédulas)
- Não… hambúrgueres não há…
- O que há então? (insistimos)
- Sandes de ovo.
- Ufa… São duas sandes de ovo.
Vêm as sandes e perguntam-nos o que queremos beber: Pedimos duas garrafas de 1,5l de água. O rapaz sai e volta com um saco que pousa em cima da mesa. Tinha ido comprar a água ao sítio ao lado.
A conversa… essa prolongou-se por um bom par de horas e a sandes de ovo com a água soube a brilhante pitéu. É que este é, até agora, o melhor espaço aqui em Bafatá! Fomos as únicas clientes da noite. E naquele dia, ali, também era sábado.


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