09/02/2011

momentos que param tempos que correm

O seu nome é Pedro. O ar é angelical. Olhos muito expressivos. Muito mesmo.
Está sentado perto da janela numa cadeira que dá asas aos seus pés.
Baloiçam, baloiçam, baloiçam.
A turma tem 30 alunos. Mas e que importa isso? Para ele há o parceiro, o vizinho da frente, o de trás e a professora. [A tradição dá voz à organização das mesas.] Até sabe que neste contexto deve pedir a palavra, mas as ideias não pedem permissão para fugir pela boca.
Pequeno por fora, mas grande por dentro. É assim que se diz. Àquela hora tudo é inicialmente uma valente chatice: a fome aperta e a sinceridade vem com ela.
- Já estás farto de estar cá dentro, não é Pedro?
-Sim e tenho fome. Hoje já tivemos muitas aulas. To cansado e por isso é que não consigo parar quieto nem de falar.
- Compreendo o teu cansaço. Achas que consegues fazer mais um esforço?
- Não. Não quero. Olha, ó professora podíamos…. e sabias que… e que… e que..

[ouve-se, inspira-se, fazem-se perguntas sobre outras coisas que não estavam planificadas, sobre o que é quem é, reconhece-se a sua força… agiliza-se, procura-se a disponibilidade que não ia preparada, que não estava planificada. Erro! Decide-se no imediato, transforma-se. Com seguranças e inseguranças. Dá-se atenção. Afinal há-de ser essa também uma das funções sem prejuízo das outras. Às vezes. Sem vendas, pelo menos conscientes.]

No outro dia…

Com a entrada na aula, os pés do Pedro voavam ainda mais alto. Desta vez tinha trazido com ele um bicho-carpinteiro.
- Professora, anda cá… anda cá. Anda cá professora. Professora!! Oh professora… Professora anda cá ver uma coisa.

[Talvez a escolha da última aula tenha sido errada, pensa a professora. O Pedro está mais agitado ainda… Este Pedro não consegue respeitar mesmo as regras. [Pensamentos soltos da professora que procura a solução.]]

- Professora, toma é para si. Não precisa de tirar nunca. Até pode tomar banho com ele e tudo. Não se estraga. Só se a professora cortar. É giro não é?


*

6 comentários:

estórias disse...

ooh que lindo pequeno grande Pedro :)

O improviso é sempre uma boa estratégia mas não tão boa como a de o ouvi-lo.

Há quem defenda que a educação como está estruturada castra as crianças, futuros adultos.

Eu também acho.

As aulas deviam ser 70% na rua :)

Ias ter montes de pequenos amigos:)

Elsa Gonçalves Francisco disse...

sobre educação há quem diga tanta coisa que se fica baralhado num mar de palavras, tantas vezes!

há tanto a fazer, a mudar, a ser!

caminhando...:]

estórias disse...

mas sejam qual forem as conclusões... sempre acharei que as aulas na rua serão perfeitas :)

Andreiita disse...

escreves como quem sente... sabes. gosto de te ler. gosto de sentir...

e tu sabes fazer sentir * :)

Elsa Gonçalves Francisco disse...

:'))

grande prazer que tenho nesta partilha acompanhada!

...nesta dinâmica que nos guia o caminhar.

Obrigada estórias e Andreiita!!

***

estórias disse...

eheh :)

Hoje sonhei com esta imagem, a do golfinho.

E sabes o que disse a quem esta a mostrar a imagem no meu sonho? O que estava escrito neste post teu:)


E com ele percebi que esta pulseiras não são assim tão totós e que podem ter um significado.