27/11/2012

Táxis

São tantos em Bissau e por força das circunstâncias o nosso meio transporte preferido.
Não são caros mas é preciso estar sempre a regatear e ajustar o preço antes da partida.
Cada um é personalizado por dentro... nota-se bem!
Mas.. há coisas entre eles comuns.
Por fora, todos são azuis ...
Todos têm alguma coisa partida
Os vidros costumam ter arte rupestre
As portas, às vezes, precisam de ajuda extra para abrir
Os bancos tortos pedem-nos posições de equilíbrio nas deslocações.
Os frasquinhos com aromas normalmente existem em quantidade industrial, o que combinado com os perfumes daqueles com quem partilhamos o táxi e com a música africana ou de versão africana normalmente em níveis exagerados, é uma combinação alucinante.
Para além das buzinas, as vozes dos motoristas atravessam, em conjunto com o braço esquerdo a janela e mostram o desagrado do "código" que se faz na estrada em cada dia conforme vai dando jeito. É uma grande sorte quando a mesma regra dá jeito aos 4 ou 5 táxis que se atropelam na rotunda em que quem lá está pára para deixar outro entrar.

Estas duas últimas noites, ficámos ali na Pensão Crioula, um espaço muito bonito em Bissau. Nas duas manhãs apanhámos às 8h o primeiro táxi para o café Ponto de Encontro para um pequeno-almoço com sumo natural que nos deixa saudades quando estamos em Bafatá e por volta das 8h40 apanhámos o  segundo táxi para o escritório, na zona do seminário.

Hoje, ao motorista do primeiro táxi pedimos que saísse para poder colocar as nossas malas na bagageira. Demorou algum tempo a sair do carro, parecia que o queria encostar mais ao passeio. Normalmente não é problema pararem no meio da estrada e estranhamos. Até porque só encostou uma das rodas ao passeio como que a querer que este fosse obstáculo ao movimento do carro.
Num crioulo meio a brincar (o crioulo e a pergunta) quisemos saber se o carro não tinha travões. Evitou a resposta, o motorista. Mas com tanta insistência nossa, lá disse num sorriso comprometido (achamos nós) que não. Tendo em conta a realidade, não nos incomodou um bocadinho e lá fomos. No caminho ainda nos rimos com a constatação: "Isto não é problema para nós. Porquê?"

No segundo táxi, a Cármen foi à frente e nós as três atrás. No meio do engarrafamento matinal, damos pela porta da Cármen ser aberta e fechada com força. Meias apáticas, com o olhar perdido nas cores e movimento que sempre se dançam naquela avenida, ela, a Cármen, parecia serena e não ter feito nada para que tal acontecesse. Procurámos o autor do movimento e lá estava, o motorista do táxi ao lado com uma voz forte a dizer "Estava mal fechada!" Agora que escrevo, não sei bem se disse, se imaginei. Se calhar até só fez silêncio, que não é atípico, nestas situações, aqui.

O resto do percurso foi feito a falar de solidariedade... nos pequenos gestos.
É claro que onde as portas fecharem bem, essa não é assim tão precisa!


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